Uma coisa é perguntar: "Acreditamos em átomos?"; outra, muito diferente, é: "Por que acreditamos em átomos?". Para responder a esta última pergunta, que é mais difícil, usaremos um exemplo despretensioso, para mostrar como se fazem tais decisões hoje em dia. Um novo inquilino é informado por seu vizinho que o coletor de lixo passa todas as quintas-feiras de madrugada. O inquilino, um cientista, aceita a informação do vizinho (que teve a oportunidade de fazer observações sobre o assunto). Contudo, ele aceita-a provisoriamente até que ele próprio tenha a prova para tirar a conclusão.
Depois de algumas semanas, o novo locatário fez numerosas observações relacionadas a existência de um coletor de lixo às quintas-feiras. A mais importante é o desaparecimento do lixo na manhã deste dia. Em segundo lugar, ele recebe uma conta mensal da prefeitura pelos serviços municipais, e há outras observações suplementares que são sugestivas. Não raro, ele é acordado às cinco horas da madrugada de quinta-feira por um forte barulho de ruído de caminhão. Ocasionalmente o barulho é acompanhado de alegre assobio, às vezes um latido de cachorro.
O inquilino tem agora muitas razões para acreditar na existência de um coletor de lixo. Entretanto, jamais o viu. Sendo um curioso e um cientista, ajusta o despertador às cinco horas da madrugada. Olhando pela janela, sua primeira observação é estar surpreendentemente escuro, sendo difícil distinguir as coisas. Contudo, percebe um homem carregando um objeto grande.
Ver é acreditar! Mas quais dessas evidências constitui "ver" o coletor de lixo? Qual fornece base para acreditar que existe um coletor de lixo? As evidências constituem o ato de "ver". E todas elas, tomadas em conjunto, fornecem a base para aceitar a "teoria do coletor responsável pelo desaparecimento do lixo". Visualizar um vulto indistinto às cinco horas da madrugada não constituiria "ver um coletor de lixo" se o lixo não desaparecesse àquela hora (Poderia ser o rapaz que distribui jornais ou o leiteiro). Tampouco o desaparecimento do lixo constituiria por si só o ato de "ver" o coletor (Talvez um cachorro comesse o lixo. Lembre-se do latido de cachorro!). Não, o locatário estava convencido de que há um coletor de lixo porque a suposição é corroborada por tantas observações, não sendo contrariada por nenhuma. Outras explicações possíveis adaptam-se também às observações, mas não tão bem (O locatário nunca ouviu um cachorro assobiar alegremente). A teoria do coletor de lixo é admitida como a teoria válida e útil para explicar um grande número de observações experimentais. Isto seria válido mesmo antes que o locatário pusesse os olhos no vulto indistinto, às cinco horas da madrugada.
Devemos concordar, todavia, que há vantagens no tipo de experiência por "visão direta". Desta maneira, pode-se obter informações mais pormenorizadas. É alto o coletor de lixo? Usa bigode? Poderia ser uma mulher? Este tipo de informação se obtém com menos facilidade quando se empregam outros métodos de observação. Vale a pena ajustar o despertador, mesmo depois de nos convencermos de que existe um coletor de lixo.
Você é o novo inquilino. Informaram-lhe que os químicos acreditam em átomos e lhe pediram que, provisoriamente, aceitasse esta proposição até que por si mesmo a comprovasse. Desde então, empregamos continuamente a teoria atômica em nossas discussões dos fenômenos químicos. A teoria atômica é uma teoria válida e útil para explicar um grande número de observações experimentais. Estamos convencidos de que existem átomos!
(Autor desconhecido)